Meditação, uma forma de estar
"Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo."
Gandhi

O Mindfulness é a consciência que
emerge quando se presta atenção plena ao momento presente e sem julgamento. A
atenção plena é a observação, sem crítica. Na sua essência permite-nos captar
os padrões de pensamento negativos antes que eles nos façam emergir numa
espiral negativa.
O objetivo deste não é eliminar estes pensamentos, mas sim observá-los, traduzindo a ideia de que não somos o que pensamos e que a nossa existência vai para além do nosso pensamento. Tal facto promove uma postura de aceitação do pensamento, emoções e sensações corporais. Assim, meditar trata-se de parar e estar presente, é simplesmente um método de treino mental.
Mitos
associados à Meditação
Há vários mitos associados à prática de mindfulness. Deixo-lhe uma breve reflexão sobre alguns que vão surgindo na minha prática clínica.
- A meditação pode ser praticada por qualquer pessoa, não estando associada, apenas, a correntes religiosas;
- A prática da meditação não leva a nenhum estado alterado de consciência, nem induz nenhum transe hipnótico.
- Não é necessário sentar-se de pernas cruzadas no chão para meditar. Pode fazê-lo trazendo a atenção plena ao lugar onde estiver: trabalho, transportes públicos ou a caminho de casa, pode praticar em qualquer lugar. Esta não tem de obedecer a nenhum lugar específico.
- A prática de atenção plena não requer muito tempo, embora seja necessário alguma persistência e treino.
- A meditação não cultiva uma postura de excesso de confiança ou otimismo exacerbado, apenas promove o foco no aqui e agora, permitindo uma tomada de decisão mais consciente.
- A meditação não é uma prática de relaxamento, mas um treino mental que promove a tomada de consciência.
- A meditação não é uma forma de escapar à realidade, mas sim uma maneira de nos encontrarmos com ela, experienciando-a na sua totalidade.
- A prática de mindfulness não tem como objetivo aceitar o inaceitável. Esta promove uma visão do mundo com maior clareza permitindo agir de uma maneira mais fundamentada e alterar o que tem de ser mudado.
Então, como posso praticar mindfulness no dia a dia?
A prática de mindfulness desenvolveu-se ao longo de milhares de anos, e, em 1979, Jon Kabat-Zinn, professor de Biologia da Universidade de Massachusetts Medical School, desenhou um programa intensivo de meditação, com vista à sua aplicação ao stress e à dor crónica.
Quando falamos em prática de mindfulness diferenciamos duas formas de o praticar, a prática formal e a prática informal.
- A prática formal desenrola-se num espaço específico, com um horário definido e com uma determinada postura - estável, com a qual se sente razoavelmente confortável e que permita a quietude durante o período considerado para o exercício.
- A prática informal realiza-se em qualquer situação, durante as atividades diárias, no trabalho, durante uma refeição ou até a conduzir. Este exercício estimula a prática da atenção plena aplicada às rotinas diárias. Nesta modalidade, para além do foco poder estar direcionado para as atividades diárias, este também poderá estar centrado na respiração consciente. Este último exercício é o que passarei a apresentar.
Porquê apresentar a respiração como um exercício de mindfulness?
Todos damos a respiração como algo adquirido, apesar de não conseguir viver sem ela. Uma vez que a respiração se faz por si, sintonizarmo-nos com ela pode ser um antídoto importante para a tendência natural de acreditar que temos tudo controlado. Estar atentos à respiração faz-nos lembrar que na essência do nosso ser, está a acontecer algo que depende muito pouco de quem somos ou do que queremos alcançar. Acrescento, ainda, que a respiração oferece à meditação um objetivo natural, e fá-lo focar no aqui e agora, transformando-se numa âncora para a sua atenção.
Prática Mindfulness - Atenção plena na respiração estando deitado
- Leve sua consciência para as mudanças nos padrões das sensações físicas, focando a sua atenção no contato e pressão do seu corpo com o chão.
- Leve o seu foco de atenção para as mudanças nos padrões das sensações físicas na barriga, à medida que o ar entra e sai.
- Perceba como se move o seu corpo à medida que o ar entra nas narinas e se dirige para os seus pulmões.
- Note que nesta posição a cada inspiração o seu abdómen se expande e a cada expiração ele se contrai levemente.
- Observe se consegue sentir esse movimento, primeiro com sua mão no abdómen e depois sem a mão, apenas levando sua atenção para o movimento da barriga.
- Não controle o fluxo respiratório. Permita que este siga o seu fluxo natural, indo e vindo naturalmente.
- Perceba da melhor maneira que puder as alterações nos padrões das sensações físicas.
- É provável que enquanto faz o exercício a sua mente vagueie, mas lembre-se que o foco está na respiração e traga novamente à sua consciência o ato de respirar.
Aceita o desafio de começar a exercitar a sua atenção plena?
Até breve,
Cláudia de Almeida